Na manhã de maio de 2016, era anunciado o início da restauração da escultura “Mão”, de Oscar Niemeyer, que faz parte do Memorial da América Latina, localizado na capital paulista. Desenhada em 1988 pelo arquiteto, a “Mão” é um dos principais símbolos daquele memorial e tornou-se um marco urbano da cidade de São Paulo. A mão espalmada, com os dedos abertos em desespero, com um mapa da América Latina a escorrer sangue pelo punho abaixo representando uma homenagem às lutas dos povos da região por liberdade, soberania e justiça social.
Foi no mesmo ano de 1988, promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil, conhecida como Constituição Cidadã, que segundo a Assembleia Nacional Constituinte presidida pelo deputado Ulysses Guimarães e composta por 559 parlamentares,
restabeleceu a democracia após 21 anos de Regime Militar no Brasil que terminou no ano de 1985.
De lá pr cá, foram mais de quatro décadas onde vivemos altos e baixos no Brasil, como o plano real ,que acabou com uma inflação galopante deixada pelo governo Sarney. Vimos um presidente tomar um empréstimo compulsório da população, mensalão, petrolão, obras caríssimas para receber a copa e as olimpíadas, vimos nossas instituições serem aparelhadas, vimos o fim da lava jato e seus desdobramentos, o impedimento de dois presidentes, sendo o último, coincidentemente no mesmo ano da restauração da escultura “Mão”.
Nos dias atuais, parece que a passividade por tudo que já enfrentamos, acabou. O brasileiro além de ser exemplo para o mundo, se transformou na última fronteira a ser conquistada, por uma ideologia que expõe uma América Latina, cujas veias continuam abertas. A “Mão” (escultura), espalmada e sangrando, reproduz com sabedoria e de forma atemporal, o pedido de socorro de milhares de pessoas espalhadas pelo continente, que sofrem as mazelas determinadas por ditadores, tiranos infiltrados em toda parte. A mesma “mão” que pede socorro, é também aquela que representa um basta, um limite, a tudo isso.
Esculturas geniais são assim mesmo, transcendem o seu tempo.