Afinal, quem somos nós?

Opinião
Guaíra, 29 de janeiro de 2016 - 09h48

Às vezes ouvimos falar “Zé, é uma pessoa do bem, João não”, ou “Sicrano é muito bom, já Bertano nem tanto”. Fico pensando em qual seria o parâmetro usado para tal julgamento. Ou, que direito temos nós para rotular pessoas? Acredito que todos nós somos a personificação do bem e do mal, só depende do momento em que estamos passando na vida, por exemplo: somos anjos ao ajudar alguém menos favorecido, quando  socorremos alguém acidentado, quando paramos para ouvir quem nem sempre consegue que lhe deem ouvidos, quando socorremos o animalzinho abandonado, quando doamos nosso tempo para fazer o bem (…), e somos “maus” quando nos deparamos com momentos em que a única saída é não sermos bons, ou que por ventura ao sermos movidos por algum ato inconsequente que nos torna piores do que julgamos ser (…), quando alguém põe em risco a integridade de quem amamos ou temos o dever de ser defensor ou cuidador, por  exemplo, se alguém pôr em risco nossa família. E acreditem, as vezes somos maus porque queremos, por desvio de caráter, para atingir alguém, ou porque simplesmente somos inconsequentes. Na verdade, ser bom ou mau, na maioria das vezes tem a ver com traumas passados, por termos sido amados ou maltratados em algum momento de nossas vidas, às vezes não damos amor por não ter recebido, quando em algum momento de nosso passado nos sentimos desprotegidos, abandonados, humilhados, maltratados, ou não recebemos de nossos pais aquilo que deveria servir de exemplo de afeto ou amor, quando quem deveria ensinar o que é amar, simplesmente não nos dá esse exemplo. Daí concluímos: se não tive amor, se não tive referências, se não tive exemplos, logo “não sei amar”. Diferente dos animais, nós nem sempre agimos por instinto, prova disso é o número assustador de violência doméstica justificada nos altos por falta de referências ou por conta de referências negativas. Vê-se muito em veículos de mídia e pesquisas também comprovam que em muitos casos de atrocidades, as pessoas já passaram por isso quando criança e ao não gritarem ao mundo esse sentimento de revolta, ou por sentirem-se impotentes, injustiçados, acabam guardando essa revolta dentro de si e se veem fazendo as mesmas coisas para descarregar a dor que guardaram no peito desde então. Ouvimos que em alguns casos, (não estou dizendo que essa é uma regra) grande parte dos agressores  também passaram por traumas  do mesmo gênero quando criança. Pessoas que agridem outras, em alguns casos, também já foram vítimas de agressões. A pessoa que trai, provavelmente carrega consigo traumas que vivenciou ao ver seus pais se traírem, por insegurança, por medo de ser traído pelo ser amado e depois ser abandonado e em alguns casos sem justificativa alguma (ou desvio de caráter mesmo). Em todos esses casos acredito sempre que pessoas podem ou não seguir o próprio  caminho, pois existem pessoas filhos dos mesmos pais, que passaram pelas mesmas coisas mas que usaram essa experiência em próprio favor e se tornaram pessoas melhores do que se previa qualquer expectativa social. Não sou profissional para analisar tal fato, mas arrisco-me a pensar que depende de nós, qual caminho seguir.  Dia a dia vejo crianças que agem com uma inocência ímpar, dizendo a verdade, amando com intensidade e conforme vão crescendo vão desaprendendo ao encontrarem o mundo real. Dizem que para opinar temos que vivenciar esse ou aquele fato, então vamos à prática do que propus anteriormente. Quem de nós, nunca esteve vivenciando o lado bom e o mau da vida, momentos de alegrias inesquecíveis e consequentemente, embora sem querer, também por momentos que preferiria esquecer. Às vezes confiamos nossa esperança de ser feliz nas mãos de alguém e depois quando não dá certo culpamos essa pessoa pelo cargo ao qual os confiamos sem sequer consultá-los primeiro. Portanto transferimos uma responsabilidade (de ser feliz), que seria nossa, para uma terceira pessoa e depois nos sentimos incompletos, julgando ser ingrata a pessoa que na maioria das vezes só tentou fazer o bem sem saber ao menos do cargo pelo qual foi nomeado sem o próprio consentimento. Usei esse exemplo para citar o quanto podemos ser anjos ou demônios de nós mesmos. Daí somos obrigados a refletir sobre nós e situações atípicas nos leva a esse repensar, pois tal situação nos obriga a ver algumas coisas por um anglo diferente. Exemplo disso: outro dia estive outro dia no velório de um amigo, pai de um ex-aluno que também se tornou um grande amigo. O fato é que observava nos momentos que antecederam o cortejo, algumas crianças brincando, alguns adultos se cumprimentando felizes por rever parentes e tristes pelo passamento do amigo, comentei com o filho, meu amigo, que me lembrava do pai dele sempre rindo e que seria essa imagem que eu iria guardar dele, uma pessoa de bem, que vivia sempre sorrindo, observei um misto de euforia e tristeza em cada semblante. Pensei: O que dirão de mim quando morrer? E agora? Será que fui uma boa pessoa? Será que fiz meu melhor? Será que fui bom pai, marido e filho? Tentei pensar “pouco me importa o que dirão de mim”, mas não é que esse pensamento me tirou o sono. Comecei a traçar a minha história desde os primórdios de minha existência, do que eu me lembro. Claro, passei por uma infância agridoce com mistos de alegrias e profundas tristezas, filho de pais separados, que de tempos em tempos estavam juntos e pensavam comigo mesmo. Cresci num ambiente onde alguns tinham tudo e outros quase nada, mas eramos igualmente felizes, ou pelo menos até chegar a época de festas, tenho medo de festas, qualquer tipo de festa, natal, ano novo, aniversário, carnaval… Tive medo de estar perto do fim e não ter vivido… Voltando ao velório do meu amigo, lembro-me que uma criança me falou (com toda sinceridade ímpar que só uma criança pode ter): “Coitado, era tão boa pessoa, porque será que quem é bom morre primeiro? Morreu bem no dia de meu aniversario”. Essa foi a outra coisa que me tirou o sono, pois pensei ao ouvir as palavras daquele anjinho: E se for verdade? E se eu sou bom? Então tenho pouco tempo? E se não for? Quanto tempo vou durar? Talvez você tenha se visto nessa situação ou em tantas outras histórias, quando lemos algo, quando nos vemos em alguma situação e nos identificamos em alguma música, quando alguém diz o quanto somos do bem ou do mau… Mas será que alguém além de nós sabe quem somos realmente? Qual rótulo você se pregaria? A intensão é de se fazer refletir sobre o quanto podemos nos expressar e usar em nosso favor o que nos é imposto pela sociedade que nos cerca e nos impõe regras, as vezes somos julgados pelo bem ou pelo mau que fizemos e que por ventura tenha atingido algum tipo de mídia, mas todos somos bons e maus, e acredite, somos as duas coisas, ninguém é totalmente certo ou errado, somos gestores de nossas vidas e depende de nós qual lado escolher. 


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Roberto Barbosa Silva de Oliveira

Construtor/técnico em desenho de construção civil, diretor de obras do Orbis Clube Guaíra – roberto.febasi@gmail.com

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