Eficiência na inovação

Opinião
Guaíra, 18 de junho de 2017 - 07h45

O Brasil apresenta um patamar razoável de inversões na área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) quando comparado com o resto do mundo. O problema é o baixo retorno desse investimento. O país tem conseguido aumentar seus indicadores científicos, como, por exemplo, a participação em publicações indexadas, mas não avança significativamente em indicadores de inovação, como o número de patentes requeridas.

Um dos grandes entraves à operacionalização eficaz da política de ciência, tecnologia e inovação no Brasil se refere à predominância de uma visão linear do processo. Isso significa que prevalece um sistema que carece de integração entre os agentes envolvidos. Essa característica deve ser entendida como uma sequência onde se passa da fase de investigação fundamental para a de investigação aplicada até a consequente inserção do resultado no mercado. Ou seja, a estrutura se baseia em uma simples relação que parte da fase científica para o desenvolvimento tecnológico e daí para o setor produtivo.

Segundo Marques e Abrunhosa, Kline e Rosenberg classificam essa visão hierárquica como um equívoco porque ela distorce o processo em três aspectos:

-Considera que o processo é desencadeado pela ciência, quando a maioria das inovações surge do conhecimento já disponível. Apenas quando esse conhecimento é insuficiente para resolução de problemas é que há necessidade de investigação;

-Ignora o fato da inovação ocorrer mesmo sem que haja uma percepção clara dos princípios científicos básicos. Muitas vezes, a evolução tecnológica é que estimula o desenvolvimento da ciência. Além disso, problemas concretos e testes de novos produtos ou processos geram pesquisas, ao criarem a necessidade de investigação para lhes dar resposta; e

-Não inclui os feedbacks que ocorrem durante o processo.

A visão predominante na área da inovação enfatiza a necessidade de uma atuação sistêmica, integrada, entre as universidades, as empresas, o mercado e o poder público.

Em Marques e Abrunhosa, a necessidade de estabelecer uma visão sistêmica do processo decorre do fato da maioria das inovações ocorrer dentro das empresas. Além disso, essa demanda se dá por conta das interações entre as organizações, e entre estas e as instituições, e por causa do fomento e da difusão depender do processo cumulativo de aprendizagem, que vão, no futuro, manter o processo inovativo. Assim, há cinco grupos que devem se integrar para a eficácia do processo: empresas; instituições de ensino, de formação e de P&D; organizações de interface e apoio tecnológico; agências de fomento; e instituições públicas.

A montagem de uma estrutura integrada, funcionado de forma cooperativa, é indispensável para a criação de um ambiente inovativo no Brasil que melhore o aspecto de governança do setor e que simplifique o processo em termos de revisão das regras no sentido de gerar segurança para os agentes e proporcionar agilidade ao sistema.


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Marcos Cintra

Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA) e professor titular de Economia na FGV (Fundação Getulio Vargas). Foi deputado federal (1999-2003) e autor do projeto do Imposto Único. www.facebook.com/marcoscintraalbuquerque

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